Aterectomia direcional (‘Lipo’ para artéria) é opção para quem tem diabetes

Fonte: Agência Estado Publicação:15/06/2015 // SaúdePlena EM
Notícia publicada em: 15.06.2015
Autor: Indefinido

Procedimento realizado pela primeira vez no Brasil é menos invasivo que a colocação de stents inseridos em artérias obstruídas para liberar o fluxo sanguíneo.

Semelhante a uma lipoaspiração, uma nova técnica para remoção de placas de gordura de artérias foi realizada pela primeira vez no Brasil no Hospital Santa Isabel, centro de São Paulo, no mês passado. O procedimento, que é menos invasivo do que a colocação de stents (tubos metálicos inseridos em artérias obstruídas para liberar o fluxo sanguíneo), segundo especialista do hospital, deve beneficiar principalmente diabéticos com doença arterial obstrutiva periférica. Trata-se de entupimento das artérias dos membros inferiores que causa dores e dificuldade para andar.

“A principal vantagem é não colocar o metal, que pode se deslocar e causar lesões nos pacientes. O stent não é ruim, é o padrão-ouro, mas, se puder não colocá-lo, é melhor”, explica o chefe do Serviço Vascular do hospital, Alvaro Razuk. O centro médico é ligado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

A técnica se chama aterectomia direcional e é feita usando um equipamento, o TurboHawk, que suga e elimina a gordura da artéria. Por meio de um corte de cinco milímetros na região da virilha do paciente, o médico introduz e controla um cateter revestido com uma fina camada metálica e com uma lâmina. A desobstrução é na artéria femoral, localizada na região da coxa.

“A raspagem da gordura é feita pela lâmina, mas é totalmente controlada pelo médico. O material retirado é armazenado em um recipiente. Trata-se de um processo parecido com a lipoaspiração mas não retira uma quantidade tão grande de gordura”, afirma Razuk.

Sintomas

Fumantes, pessoas sedentárias, homens com mais de 60 anos, obesos e pacientes com maus hábitos alimentares também estão entre as pessoas mais propensas a desenvolver a doença. O porteiro Eliezer Silva de Lima, de 65 anos, foi o primeiro paciente a ser submetido à técnica e faz parte dos três primeiros grupos. Ele começou a fumar aos 23 anos e não pratica atividades físicas. Há três meses e meio, apresentou sintomas da doença arterial obstrutiva periférica.

“Comecei a sentir dor nas pernas e elas ficavam inchadas. Eu conseguia andar, no máximo, 30 metros e tinha de parar para descansar. Tomava medicamentos e não passava. Meu pé direito ficou ferido e o dedão, muito escuro.” Lima diz que recebeu a informação de que seria submetido à técnica e que resolveu aceitar. “Eu não tenho dúvidas de que estou melhor agora. A minha idade não ajuda muito, mas estou bem.”

Segundo Razuk, em todo o mundo, acontece 1 milhão de amputações por ano em decorrência da doença e 50% dos pacientes ainda não tinham sido submetidos a tratamento. Ainda de acordo com Razuk, o entupimento das artérias pode continuar evoluindo e aparecer em outras partes do corpo, causando complicações em órgãos como o cérebro e o coração. Mas a nova técnica é voltada apenas para a artéria femoral.

Potencial

Razuk diz que o procedimento já é realizado nos Estados Unidos e na Europa. “É uma técnica recente, que existe há dois anos, mas os resultados são animadores. Outros hospitais do País devem utilizá-la também.”

O especialista pondera, no entanto, que o preço pode atrapalhar a disseminação do procedimento. “Uma angioplastia com stent custa em torno de R$ 15 mil e é mais barata do que esse dispositivo, que deve ficar 50% mais caro.”

Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Walter Minicucci diz que é importante buscar procedimentos menos invasivos e que evitem riscos para os pacientes, mas que é fundamental fazer trabalhos de conscientização da população. “A gente procura evitar tratamentos que causem complicações, mas há outras técnicas para melhorar o risco, como manter o colesterol baixo e não fumar.”

Para Luiz Francisco Machado da Costa, diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), a técnica vem para complementar os tratamentos tradicionais para a doença. “É um dispositivo que não é experimental, mas muito pontual. É para abrir um caminho quando a placa de gordura está muito rígida. Essa técnica não veio para substituir, mas para agregar, é mais uma alternativa.”