A POLIPÍLULA PODE SER EFICAZ PARA AUMENTAR A ADESÃO DO PACIENTE DIABÉTICO AO TRATAMENTO?

A POLIPÍLULA PODE SER EFICAZ PARA AUMENTAR A ADESÃO DO PACIENTE DIABÉTICO AO TRATAMENTO?
Fonte: Portal SBD
Notícia publicada em: 01.10.2014
Autor: Dr. Augusto Pimazoni-Netto

É de conhecimento geral que a maioria dos pacientes diabéticos apresenta baixa aderência ao tratamento farmacológico, principalmente quando tratado com opções medicamentosas individuais que precisam ser ingeridas em diferentes horários do dia. Muito já se falou sobre o potencial da polipílula como estratégia eficaz no combate à baixa aderência de pacientes crônicos em geral e que necessitam de vários medicamentos. O estudo UMPIRE, recentemente publicado no JAMA(1), avaliou o impacto da utilização da polipílula sobre a melhora na aderência ao tratamento medicamentoso e no controle de algumas condições de risco cardiovascular, como a hipertensão e a hipercolesterolemia. Esse foi o primeiro estudo que avaliou a terapia com dose fixa de combinação de fármacos e sua eficácia em pacientes com doença cardiovascular (DCV) ou portadores de condições que caracterizam risco cardiovascular aumentado, entre os quais ocorrem cerca de 40% de todos os eventos cardiovasculares.

O estudo UMPIRE foi desenhado como objetivo de atender a uma solicitação da Comissão Europeia em 2009 para uma pesquisa no sentido de avaliar a eficácia e a segurança de uma pílula de combinação fixa de fármacos mais frequentemente utilizados no tratamento de doenças crônicas, que pudesse ser desenvolvida com baixo custo e que pudesse ser administrada apenas uma vez por dia. O desenvolvimento da polipílula atenderia principalmente às necessidades de populações carentes de recursos para a saúde. Foram avaliados 2004 pacientes com DCV conhecida ou de alto risco para DCV, vivendo na Índia, Inglaterra, Irlanda e Holanda. Metade dos pacientes recebeu cuidados usuais e a outra metade recebeu uma polipílula contendo 75 mg de aspirina + 40 mg de sinvastatina + 10 mg de lisinopril + 12,5 mg de hidroclorotiazida ou 50 mg de atenolol, conforme a preferência do médico responsável. Os desfechos primários foram definidos como impacto na aderência à medicação e no controle da pressão arterial sistólica e do colesterol LDL.

Após um período mediano de 15 meses de observação, o grupo de pacientes com a polipílula aumentou significativamente a aderência à medicação, em comparação com o grupo que recebeu apenas os cuidados usuais: 86% no grupo de polipílula e 65% no grupo de cuidados usuais. Além de melhorar a aderência, os pacientes no grupo da polipílula também apresentaram melhora significativa na pressão arterial sistólica e nos níveis de colesterol LDL. Os benefícios foram ainda mais amplos no subgrupo de 727 pacientes com baixa aderência, nos quais a polipílula promoveu um aumento 3 vezes maior na taxa de aderência, atingindo níveis de 77%, em comparação com os 23% de aderência nas fases iniciais do estudo. Não houve diferenças significantes em termos de eventos adversos ou cardiovasculares entre os dois grupos.

Diante de resultados tão expressivos no controle do risco cardiovascular com a polipílula, cabe a pergunta: esta poderia ser uma estratégia eficaz e segura para o controle do diabetes? Em sua opinião, quais seriam os fármacos que deveria ser incorporados numa polipílula para o tratamento do diabetes? Em que doses? Este debate seria muito importante no sentido de se avaliar novas abordagens visando a melhora da aderência ao tratamento e a redução do risco cardiovascular em pacientes diabéticos.

Fonte: Thom S, Poulter N, Field J et al. UMPIRE Collaborative Group. Effects of a fixed-dose combination on medication adherence and risk factors in patients with or at risk of CVD: The UMPIRE randomized clinical trial. JAMA 2013; 310:918-929.

Informações do Autor
Dr. Augusto Pimazoni-Netto
Coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
E-mail: pimazoni@uol.com.br