Cientistas Estão Mais Perto da Fórmula para Controlar o Colesterol

Cientistas Estão Mais Perto da Fórmula para Controlar o Colesterol

Aplicada em ratos, fórmula reduz os danos causados pelo estreitamento das artérias em 64% e baixa a taxa de colesterol alto em 53%.

Diretamente associado à aterosclerose, condição caracterizada pelo estreitamento das artérias, o colesterol alto é controlado com estatinas, que precisam ser tomadas diariamente. No ano passado, também foi aprovada no Brasil uma nova classe de medicamentos que tem a enzima PCSK9 como alvo. Essa substância dificulta a remoção do LDL, conhecido como “mau colesterol”, da corrente sanguínea. Contudo, enquanto os remédios convencionais têm a desvantagem do uso crônico, o que pode diminuir a adesão ao tratamento, os biológicos são de alto custo e têm a indicação específica para pessoas que não conseguem baixar as taxas mesmo com a dose máxima de estatina ou para os portadores de hipercolesterolemia primária. Por isso, a ciência corre atrás de uma vacina que, de forma duradoura, proteja o coração contra as perigosas placas de gordura.

Na edição de hoje do Jornal Europeu do Coração, pesquisadores da Universidade de Viena e do Biocentro AFFiRis, também da capital austríaca, anunciaram os resultados de um estudo que se focou na PCSK9 para a redução de colesterol e aterosclerose com a abordagem da imunoterapia. Em um modelo de ratos alimentados com alto teor de gordura, eles testaram a vacina AT04A, que, aplicada sob a pele dos animais, desencadeou a produção de anticorpos que eliminaram a enzima da corrente sanguínea.
O resultado foi significativo: 53% de redução do colesterol, 64% de diminuição dos danos causados pela aterosclerose e menos 21% a 28% de marcadores de inflamação nas artérias, comparado  com ratos não imunizados. De acordo com o principal autor do estudo, Günther Staffler, desenvolvedor de novas tecnologias da AFFiRis, uma grande vantagem foi o tempo de duração do tratamento. Mesmo ao fim do estudo, os benefícios se mantinham. Staffler diz que, em humanos, a ideia seria uma dose da vacina ao ano, associada ao checape cardiológico regular (Leia entrevista nesta página). Com esse regime, o pesquisador defende que a imunização sairá mais barata que os medicamentos biológicos, que exigem ao menos duas aplicações subcutâneas mensais.
Staffler destaca que a redução dos níveis de colesterol total esteve diretamente associada à concentração dos anticorpos induzidos pela vacina, provando que a imunização foi responsável pela diminuição da aterosclerose. Ele explica que a enzima PCSK9 é produzida no fígado e bloqueia os receptores do colesterol LDL, reduzindo a capacidade do órgão de se livrar dessa substância maléfica. Quando injetada, a AT04A faz com que o corpo produza anticorpos que bloqueiam a função da PCSK9, de modo que a atividade dos receptores de colesterol LDL é aumentada.
Teste em humanos
“A forma como a AT04A é administrada compara-se a uma vacina”, explica Staffler. “Contudo, a diferença entre uma vacina convencional e nossa abordagem é que a vacina induz anticorpos específicos para proteínas virais ou bacterianas que são externas ao corpo — patógenos —, enquanto que a AT04 induz anticorpos contra uma proteína-alvo que é produzida pelo corpo — proteína endógena. Isso é realmente uma abordagem imunoterapêutica, mais que uma vacinação”, diferencia.
De acordo com ele, já está em curso um estudo clínico (com humanos) de fase 1, desde 2015, conduzido pela Universidade de Viena. A pesquisa, cujos resultados devem sair até o fim do próximo ano e inclui 72 pessoas saudáveis, investiga se a AT04A e outra molécula, a AT06A, são seguras.
Em um editorial que acompanha o artigo, o professor Ulrich Laufs, da Universidade de Saarland, na Alemanha, e o professor Brian Ference, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, escreveram que a abordagem parece promissora. “Contudo, a segurança, a resposta em humanos e o muito importante e ainda desconhecido efeito imune a longo prazo devem ser adereçados cuidadosamente durante o curso do desenvolvimento clínico”, ponderaram.
De acordo com os acadêmicos, um dos efeitos das estatinas a longo prazo é o aumento nos novos casos de diabetes. “Portanto, uma preocupação em potencial sobre a segurança de uma vacina que reduza o LDL é um aumento do risco de novos casos de diabetes. Em curto prazo, o efeito das estatinas e o dos inibidores da PCS9 parecem superar amplamente esse risco”, concluíram.
Fonte: Ciência e Saúde do CB, postado em 20/06/2017.
Por: Paloma Oliveto